Um ano antes de Paula Cheng se formar na Parsons the New School for Design como bacharel em Moda, em maio, ela venceu um concurso organizado pelo Museu Metropolitano de Arte com peças inspiradas na exposição de Alexander McQueen ‒ mas não se concentrou nas calças de cintura baixa ou nos vestidos de parar o trânsito, mas sim nos sapatos plataforma pretos e sandálias com tiras de pele que já apareceram no site da Vogue italiana.
"Pretendo me tornar conhecida através dos meus sapatos", diz Cheng, de 26 anos, que também tem a intenção (mas não o capital) de montar uma grife de roupas de tricô. "Seria o máximo ver minhas criações na Macy's".
Há dez anos, os alunos do mesmo curso teriam dito que o objetivo era ter uma carreira como a de Marc Jacobs, Diane von Furstenberg ou Michael Kors. Hoje, as referências incluem Rebecca Minkoff, Pamela Love e Brian Atwood – todos estilistas de acessórios.
Numa economia que continua estagnada, a mulher de estilo que antes encomendaria com antecedência o vestido do momento para uma temporada recheada de festas em Hamptons agora prefere esticar o orçamento comprando uma bolsa, sapatos, chapéus ou até uma capa para o iPad. Nas festas, vai fazer figa para ninguém notar que não está vestindo nada novo ‒ mas a indústria da moda notou.
NYT
Bolsas Michael Kors: vendas de acessórios responderão por 75% da receita da grife em 2012
"O setor de acessórios está mais saudável que o de roupas", afirma Marshal Cohen, analista de varejo do Grupo NPD. (De fato, segundo a porta-voz da Michael Kors, os acessórios correspondem a 75% da receita total em 2012).
"A moda feminina, no último ano e meio, mostra desempenho negativo", diz Cohen. "Nos últimos seis meses, as vendas de acessórios cresceram 2% em relação aos doze meses anteriores. Pode não parecer muito, mas, no setor da moda, é excelente."
Calçados, malas, pequenos objetos de couro e óculos escuros estão tendo um desempenho especialmente bom.
Os chapéus também estão em alta depois do casamento de Kate Middleton com o príncipe William, evento no qual tiveram papel de destaque, como afirma Vasilios Christofilakos, presidente do departamento de criação de acessórios do Fashion Institute of Technology.
"Chamou a atenção de todo o planeta", diz Christofilakos, "e renovou o interesse na arte da chapelaria, principalmente entre os homens. O chapéu está na moda, mais arrojado, e os estilistas estão brincando com tecidos não tradicionais".
Gigi Burris, chapeleira que se formou na Parsons em 2009, conta que fez um chapéu para cada roupa de sua coleção/tese. Depois de formada, conseguiu o primeiro editorial na revista Elle e começou sua própria linha em 2010.
"O mercado está saturado de gente fazendo roupa; eu resolvi aposta no nicho dos chapéus", diz ela.
Clara Yoo, designer de bolsas e acessórios da Limited Brands, se formou na Parsons em 2008.
"Quando fiz o curso de criação de acessórios, o grupo era minúsculo, tinha uns cinco alunos", revela. "Hoje, não dá para acreditar no número de pessoas na classe."
Estilistas de prêt-à-porter como Narciso Rodriguez e Monique Lhuillier estão começando suas próprias linhas de sapatos e Victoria Beckham introduziu uma linha de óculos de sol. O Conselho de Acessórios está organizando trunk shows para colocar estilistas de acessórios novatos em contato com os lojistas para ajudá-los a fechar o primeiro pedido grande, explica Karen Giberson, presidente da organização.
O crescimento do comércio eletrônico e dos sites de compras como Etsy, BaubleBar e AHALife também tem ajudado esse profissionais, principalmente pelo fato que eles não precisam se preocupar se a peça serve ou não como acontece com as roupas, diz Amy Jain, uma das fundadoras do BaubleBar.
"Geralmente as bijuterias da moda são tamanho único, servem para todo mundo", ela explica. "São compactas e leves, o que ajuda muito no processo de produção e envio."
Até os meios tradicionais de comunicação estão incentivando o crescimento da categoria: no ano passado, o programa "Project Runway" gerou um desdobramento, o "Project Accessory".
Yana Paskova/The New York Times
Carly Ellis com peças de sua coleção de acessórios na Parsons The New School for Design: aulas ensinam como criar e produzir com baixo custo
"Programas desse tipo expõem outras partes do setor e as tornam mais interessantes para os alunos", conta Rachel Fishbein, ex-aluna do FIT que hoje cria sapatos para a Simply Vera e Dana Buchman. Em junho, Hearst anunciou que a revista Elle Acessórios vai voltar a ser publicada a partir de outubro.
Muitas escolas além da Parsons promovem concursos. O LIM College, em Midtown, organiza uma competição em parceria com o Conselho de Acessórios, durante o qual os alunos desenvolvem um produto ou plano para dirigir as vendas para uma categoria específica de acessórios.
Michael Londrigan, presidente do Departamento de Propaganda de Moda, disse que no LIM a maioria dos alunos quer uma carreira no mercado de acessórios, principalmente venda, compra e desenvolvimento de produto.
"Durante os períodos de economia instável, o setor tende sempre a crescer e os obstáculos financeiros para entrar nele passam a ser mais fáceis de superar", escreveu Londrigan num e-mail.
No início do ano letivo de 2008, dez alunos tinham se matriculado no curso de criação de acessórios do Savannah College of Art and Design; em 2012 havia 80, segundo o reitor da faculdade.
"O número de alunos que prefere focar seu talento nos acessórios em resposta à tendência do mercado é cada vez maior. Ele pode não ser à prova de recessão, mas aguentou bem a crise", afirma ele.
Yana Paskova/The New York Times
Na Parsons, os alunos aprendem os diferentes tratamentos que o couro pode receber, como criar para clientes diferentes e várias formas de baixar o preço da mercadoria
A cadeira, que antes contava com um único professor em 2008, hoje tem cinco, correspondendo a quase 20% da faculdade de moda da escola, incluindo um mestre sapateiro, um sapateiro por encomenda e estilistas de bolsas.
Na Parsons, professores como Simon Collins, dono da cadeira de Criação de Acessórios, ensinam os alunos os diferentes tratamentos que o couro pode receber, como criar para clientes diferentes e várias formas de baixar o preço da mercadoria. A escola promoveu concursos com prêmios que incluem estágios e a produção de protótipos na Shoe Polytechnic, Allen Edmonds, o grupo PPR, dono de grifes de luxo como Gucci, Yves Saint Laurent e Alexander McQueen e a Coach, cujo estilista, Reed Krakoff, também estudou por lá.
Joel Harding, vencedor da competição da Coach no ano passado, promovida pela Parsons, escreveu no blog da escola que mudou o foco acadêmico de confecção feminina para criação de acessórios.
"É uma área pouco explorada, então tudo é novo, tudo é revolucionário", ele escreveu, dividindo com muitos colegas a opinião de que criar pulseiras, cintos e bolsas que enfeitam o vestido é tão interessante quanto criar o vestido em si.
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