terça-feira, 28 de agosto de 2012

Habilite-se!


Por Fernanda Pompeu | Mente Aberta

Semana passada, na paulistana Praça Pôr-do-Sol da Vila Madalena, vi um senhor octogenário aprontando diabruras com seu andador. Fazia curvas, dava marcha a ré, ensaiava balizas entre os bancos. Não digo que ele tivesse uma expressão feliz, mas sim corajosa. Um velho e seu andador, um homem e sua vitória.
Por conta dessa cena, fiquei pensando que adquirir habilidade - substantivo tão em moda - talvez seja uma ação colada ao ser humano. Ela pode acontecer por desejo: Quero pilotar airbuses. Ou porque, igual ao senhor da Praça Pôr-do-Sol, necessitamos.
Também podemos adquirir uma habilidade pela mistura de necessidade e prazer. Conforme dizem por aí, faz séculos, para unir o útil ao agradável. O fato é que aos 56 anos decidi tirar minha carteira de motorista!
Minha decisão foi posta à prova em vários momentos. Nas aulas teóricas, vivi um certo constrangimento ao olhar em volta e só ver garotas e garotos com dezoito, dezenove anos. Tá bom, tinha um bem idoso, talvez com 26!
Na segunda aula, o professor perguntou se eu estava cumprindo alguma punição: Você ultrapassou seus pontos na carteira? Está fazendo reabilitação? Respondi: Em outra vida fui motorista. Mas nesta é a primeira vez. Emendei: o senhor acha que estou velha para aprender?
Passei na prova teórica do Detran, e nove dias depois iniciei o curso prático. O instrutor, com idade de ser meu filho, só faltou me explicar que rodas servem para o carro rodar, direção para a gente manter o comando. Faróis, para iluminar o caminho à noite.
Para encurtar a história, faz seis meses que subo e desço as ladeiras de Sampa sem assustar ninguém. Ganhei uma nova habilidade. Algo que não era capaz antes, e que me deixa orgulhosa e satisfeita hoje. Já ando planejando tirar habilitação para motocicleta.
Essa experiência me pôs mais próxima de todos os que, fora do tempo regulamentar, adquirem habilidades. Pensei nas mulheres e nos homens que se alfabetizam depois de adultos. Imaginem a alegria deles ao ler a primeira frase e escrever o primeiro recado.
* iPhonografia: Régine Ferrandis, de Budapeste.

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