Uma mulher com mais de 40 anos que decide engravidar não perde tempo: marcar uma consulta com o ginecologista para avaliar suas condições de saúde e eventuais riscos para ela própria e para o bebê faz parte do processo e pode, até mesmo, mudar os planos do casal. Isso porque, nessa faixa etária, aumenta bastante a incidência de problemas como diabetes gestacional e eclampsia, no caso da mãe, e de alterações genéticas que geram situações como a Síndrome de Down. Uma investigação cautelosa e que, até hoje, tinha o homem como espectador de grande interesse.
Em 40% dos casos em que o casal não consegue ter um filho, o problema é masculino.
O cenário tende a mudar a partir de agora, com um estudo que vem causando rebuliço na comunidade científica e também entre os casais de idade mais avançada. A pesquisa, publicada na prestigiosa revistaNature mostrou que a participação do homem na concepção é muito maior do que se imaginava. Por meio de uma pesquisa com 78 famílias, foi possível quantificar o risco de uma criança ter autismo ou esquizofrenia de acordo com a idade do pai, ano a ano - e a conclusão é simples: a partir dos 40 anos, os riscos aumentam.
Sorologia
"Realizar um exame de sorologia antes da concepção não é sinal de falta de confiança entre o casal, mas de preocupação com a saúde de ambos", afirma o infectologista Marcos Antonio Cyrillo, da diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia. Segundo ele, muitas pessoas nem sabem que são portadores de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).
A sorologia é feita por meio de um exame de sangue simples para identificar doenças como hepatite, sífilis e AIDS. Como todas elas são sexualmente transmissíveis, podem ser passadas para a futura mãe e, consequentemente, para o bebê. Na melhor das possibilidades, a criança não é contaminada, mas é possível que nasça com problemas ou mesmo sem vida.
É fundamental a participação do pai durante toda a gestação.
"A partir do resultado, o casal pode repensar a gestação ou iniciar um tratamento que diminua o risco de contágio", aponta o infectologista. Quanto antes o problema for identificado, mais eficaz o controle.
Espermograma
O espermograma é um dos primeiros exames solicitados quando o assunto é fertilidade masculina. "Por meio da avaliação do sêmen é possível identificar diversos fatores fundamentais para o casal que está tentando engravidar, como a qualidade e a motilidade dos espermatozoides", afirma o ginecologista Márcio Coslovsky, especialista em reprodução assistida e diretor da Primordia Medicina Reprodutiva.
Segundo o especialista, a poluição, o estresse e maus hábitos, como o tabagismo, fizeram com que a qualidade dos espermatozoides venha decaindo progressivamente. "Em 40% dos casos em que o casal não consegue ter um filho, o problema é masculino", afirma.
Descobrir tais características ainda nas primeiras tentativas pode poupar tempo e evitar repetidas decepções. Em alguns casos, o uso de polivitamínicos pode ser a solução. Outros resolvem-se com tratamentos para infertilidade mais elaborados. "Quanto mais jovem o casal, maior a chance de sucesso em técnicas de reprodução humana", lembra o urologista Aguinaldo Nardi, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia.
A idade do pai
Como apontado no estudo da Nature, quanto mais idade o pai tiver, maior o risco de o bebê nascer com autismo ou esquizofrenia. Segundo o ginecologista Márcio, biologicamente falando, a melhor idade para que o homem tenha um filho é entre 25 e 35 anos. Na prática, os casais estão tendo filhos cada vez mais tarde por questões de planejamento.
Enquanto a mulher já nasce com determinado número de células que, mais tarde, darão origem aos óvulos, homens produzem espermatozoides durante toda a vida. A qualidade dos espermatozoides, entretanto, vai diminuindo gradativamente. "Isso faz parte de um processo natural de envelhecimento", afirma o urologista Aguinaldo.
Por isso, o casal deve avaliar se estará disposto a assumir o risco de ter uma criança já mais velhos ou avaliar opções como a adoção. "Fundamental é a participação do pai durante toda a gestação, seja fazendo os exames pré-natais, seja acompanhando a mulher nas consultas", afirma o ginecologista Márcio.
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